quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A QUESTÃO DO DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO



Uma reflexão sobre o dízimo, sua aplicação e a sua negação por parte de alguns grupos

Robson T. Fernandes

Tenho percebido que de tempos em tempos a questão da polêmica sobre o dízimo volta à tona, e sempre com argumentações calorosas e discussões efervescidas em torno da questão. Porém, a minha intenção com esta pequena reflexão não é propriamente fazer uma abordagem exaustiva sobre o assunto, mas partir para a questão de uma forma mais direta e aplicativa, abordado as origens do debate e as consequências desse embate.

Recentemente recebi uma mensagem, bem acalorada, de alguém que questionava o dízimo para o Novo Testamento e consequentemente para os dias de hoje, então passei a me questionar sobre os motivos pelos quais alguém aborda essa questão. Será que essa abordagem é feita porque se deseja ser fiel a Deus e a Sua Sagrada Palavra, ou existe um motivo oculto por trás de tudo isso?

A maioria das pessoas que debate de forma eufórica sobre dízimo o faz não por outra razão, mas simplesmente porque querem encontrar justificação para a prática do não dízimo.

Dito isto, é importante - primeiramente - entender que se não é do interesse do querido leitor ser dizimista, ou seja, se o querido leitor já está disposto a não ser e se apresenta pronto para o confronto, não serei eu e nem qualquer outro ser humano que lhe convencerá dessa questão. Portanto, esse é um assunto pessoal entre você e Deus e, por isso, acredito que quem deseja não ser dizimista não precisa se justificar para mim, para as redes sociais ou de qualquer outra forma. Ainda, se o querido leitor acredita que Deus está lhe dando paz ao coração para não ser dizimista, sinceramente, obedeça a Deus, porque é a Ele que você prestará contas agora e no final de tudo. Mas saiba, antes de tudo, que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17:9).

Por outro lado, boa parte daqueles que argumentam contra o dízimo questionam o significado de se “roubar a Deus”, e o que isso significaria. Alguns fazem a seguinte afirmação, referindo-se a Malaquias 3:8: “Como o povo pode roubar a Deus NAS OFERTAS, se a oferta é voluntária, dou quanto quiser e quando quiser 10% de tudo onde está nessa passagem, quando Deus detalha como deve ser praticado o dízimo?”.

Primeiramente, precisamos entender que Dízimo é uma coisa e Oferta é outra. Mas, mesmo que fossem a mesma coisa, e independente do texto ser aplicado à Igreja ou à Israel, se a Bíblia diz que o povo estava roubando é porque certamente estava roubando. Ponto final. O texto é bastante claro sobre isso. O povo estava roubando a Deus!

Por quê? Porque tudo vem de Deus e é de Deus!

Então, a primeira questão envolvida nesse debate sobre o dízimo envolve os conceitos de senhorio e de servo. Ora, se Deus é o Senhor, e de fato é, então Ele é dono de todas as coisas. Logo, o que tenho não me pertence, mas sou apenas um administrador, um mordomo. Dessa forma, se tenho em minha mente o conceito da soberania e do Senhorio de Deus, não será difícil para mim me desprender daquilo que não me pertence. Então, não obedecer é roubar a Deus.

Outro argumento utilizado para se defender a cessação do dízimo para os dias atuais é a afirmação de que o dízimo fazia parte da Lei, e como a Lei foi cumprida, ou seja, teve seu tempo terminado, o dízimo também cessou. Esse argumento é desprovido de solidez bíblica, pois em nenhum lugar vemos o dízimo associado a Lei. Na verdade, a Lei foi dada à Moisés e aproximadamente 500 anos antes de Moisés e, consequentemente, antes da Lei ser entregue no Sinai, Abraão já praticava o dízimo, entregando-o a Melquisedeque, por exemplo, que era uma figura que tipificava Cristo (Gn 14;18-20).

Portanto,o dízimo é independente da Lei.

Estou perfeitamente inteirado de que o texto de Malaquias 3, especificamente, se refere a Israel, mas também sei que na Hermenêutica existem as Leis da Autoria, Interpretação, Aplicação e Implicação, que nos ajudam a entender uma mensagem e aplicá-la a nossa vida, para os dias de hoje.

A Lei da Autoria nos ensina que a mensagem bíblica deve ser contextualizada, o que significa comparar situações semelhantes entre a Bíblia e a atualidade e adotar a atitude bíblica semelhante. Ou seja, o alvo que o autor desejava alcançar na época é o mesmo a ser alcançado hoje, em uma situação semelhante.

A Lei da Interpretação nos ensina que o princípio do ensino, a ideia central do autor, deve permanecer na atualidade. Devemos buscar a mensagem que é trazida através do texto direto e claro ou através dos símbolos que são usados.

A Lei da Aplicação nos ensina que a aplicação do texto pode ser empregada de forma individual ou coletiva. Ainda, sempre que enfrentamos situações semelhantes com as relatadas na Escritura, a vontade de Deus para nós é a mesma que Sua vontade para eles.

A Lei da Implicação nos ensina que a consequência revela a situação. Isto é, se alguém sorri é porque está alegre, se chora é porque está triste. Assim sendo, a Lei da Implicação esclarece que para toda ação existe uma reação.

Por isso, com base nessas leis, se enfrentamos situações semelhantes as da Bíblia devemos agir semelhantemente. Ainda, diante de situações semelhantes a vontade de Deus para os povos bíblicos será a mesma vontade de Deus para Seu povo hoje.

Com isso, a finalidade do dízimo, com relação a nação de Israel, especificamente em Malaquias 3, era prover mantimentos para a casa de Deus e para o sustento daqueles que se dedicavam exclusivamente e integralmente a casa de Deus em Israel. Nesse caso em particular, os levitas. Sabemos que o texto é específico para Israel, mas se ainda hoje temos a igreja como local dedicado ao serviço e pessoas que vivem exclusivamente e integralmente para o cuidado da casa e do povo da casa, por que, então, não providenciar "mantimentos" para a casa de Deus? Por que negar dízimos e ofertas para hoje se enfrentamos situações semelhantes e a vontade de Deus já foi revelada? Por que negar esse princípio bíblico e hermenêutico? A menos que, semelhantemente aos povos daquela época, também estejamos roubando a Deus hoje.

O problema de quem questiona o dízimo não é outro senão avareza. Ainda, a base do dízimo não é o interesse em receber algo em troca, da parte do homem, mas o amor pela casa de Deus e pela obra de Deus, e o profundo desejo de ver a casa e a obra de Deus bem supridas. Portanto, não desejar dizimar ou ofertar é confessar publicamente a falta de amor por ambos, pela casa (igreja) e pela obra.

Enfim, na minha opinião, a questão é essa: dízimo diz respeito ao amor que deveríamos ter em vermos a igreja bem suprida e a obra de Deus bem abastecida. O que passar disso vem da avareza do coração e da tentativa de autojustificação para não contribuir com a casa e a obra de Deus.