Análise das
argumentações do artigo “Quem são os "irmãos" de Jesus?”, do site
católico Veritatis Splendor
Diante de tudo o que foi exposto no artigo “O DOGMA DAVIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA”[1]
(FERNANDES, 2013), não podemos concordar, aceitar ou acreditar que a Maria
apresentada pelo catolicismo romano seja a mesma que a Bíblia Sagrada
apresenta, porque as duas são tão distintas em suas características que não
podem ser a mesma pessoa.
As atribuições dadas à Maria do catolicismo não correspondem
as características da Maria bíblica.
É graças a essa suposta virgindade perpétua de Maria que ela
foi feita santa, arrebatada (assunta) ao céu, coroada rainha do céu e do
universo e feita coredentora, mediadora e intercessora. É graças a esta suposta
virgindade perpétua que a denominada “Santa mãe de Deus” se torna exemplo para
a igreja católica, para os clérigos e para os fiéis. Essa é a base da doutrina
e dos dogmas católicos.
Por isso, afirmar que a Maria bíblica teve outros filhos
biológicos, após Jesus, é o mesmo que atingir o coração do catolicismo, pois
demonstra que esta instituição religiosa (catolicismo) está completamente errada
em seus dogmas e que muitas de suas doutrinas não correspondem em nada àquilo
que a Bíblia Sagrada determina. Demonstrar que Maria não foi perpetuamente
virgem, e que teve outros filhos biológicos é o mesmo que demonstrar que a
Maria apresentada pelo catolicismo não é a Maria da Bíblia, e sim outra Maria
(Ishtar / Astarte). Em ambos os casos, a coluna vertebral do catolicismo (Maria
e sua virgindade perpétua) são atingidos frontalmente.
Então, após termos argumentado contra a perpétua virgindade
de Maria[2],
pretendemos demonstrar que ela teve outros filhos biológicos. E é por essa
razão que o debate sobre os filhos biológicos de Maria, irmãos de sangue de
Jesus, tem causado tanta discussão.
No presente artigo entendemos que a interpretação bíblica
deve ser moldada pela análise do texto, através do correto entendimento do
significado das palavras e depois pelo entendimento do contexto envolvido, seja
histórico ou cultural. A isso chamamos de interpretação histórico-gramatical.
Nesse sentido, a nossa proposta para o estudo do assunto
está em focalizar os argumentos utilizados pelo catolicismo, ao defender que
Maria não teve outros filhos biológicos além de Cristo. E para isso, como
desejamos fazer o estudo de forma séria, utilizamos os argumentos propostos por
um dos mais conceituados sites de apologética católica do Brasil, o Veritatis
Splendor.
Veritatis Splendor (O esplendor da verdade) é um termo latim
que aparece no título da décima Encíclica Papal de João Paulo II, Veritatis
splendor in omnibus Creatoris operibus effulget, publicada em 6 de agosto de
1993. Esse documento apresenta o posicionamento católico sobre a condição do
homem diante do bem e do mal e qual o papel da igreja católica na educação
moral.
Portanto, o site Veritatis Splendor dedica-se à memória e
ortodoxia cristã (católica) e trata de temas apologéticos, doutrinários,
históricos, dogmáticos e de direito canônico, totalmente voltados e centrados
no catolicismo romano.
Em seu artigo “Quem são os "irmãos" de Jesus?”[3],
de 3 de outubro de 2006, o site católico apresenta algumas argumentações sobre
o posicionamento católico a favor da perpétua virgindade de Maria, que iremos
comentar a partir de agora.
Veritatis Splendor:
“No Evangelho de São Lucas lemos: "Maria
deu à Luz o seu filho primogênito" (Lc 2,7). Aqui os protestantes enxergam
indícios de que o Senhor foi somente o primeiro filho de Maria. Ora, a palavra
"primogênito" só significa primeiro filho, podendo ele ser filho
único ou não”.
RESPOSTA:
Vejamos o que o Dicionário da Bíblia Católica online[4]
diz:
PRIMOGÊNITO
Tanto a primeira cria de
um animal, como os primeiros frutos das árvores deviam ser oferecidos ao Senhor
no santuário, em agradecimento pelo dom da vida. A mesma lei se aplicava ao
primeiro filho do casal: ele era considerado propriedade do Senhor (Ex 13,2;
22,29). Mas como sacrifícios humanos eram severamente proibidos, os pais,
depois de oferecer o menino no templo, o resgatavam mediante uma oferta
material. Esse costume devia lembrar aos israelitas a noite do êxodo, quando
Deus fez morrer os primogênitos dos egípcios, ao passo que preservou os filhos
dos israelitas (Ex 12,29). Também Jesus, aos quarenta dias de idade, foi levado
ao templo por seus pais, oferecido ao Senhor e em seguida resgatado (Lc 2,28s;
cf. Ex 13,12s e nota).
Então, primogênito, segundo o Dicionário da Bíblia Católica
é a primeira cria de um animal. Ora, se é a primeira é porque existem outras
depois. Caso contrário não seria a primeira e sim a única.
Aqui vemos a diferença entre primogênito e unigênito!
Vejamos, então, no grego.
A palavra PRIMOGÊNITO vem do grego πρωτότοκος (prôtótokos),
e significa:
De acordo com o Dicionário
Strongs[5], Protótokos significa: o primeiro,
o primeiro no tempo, o primeiro entre outros (que se seguem).
De acordo com o
Léxico Grego do Novo Testamento[6], Protótokos significa: o
primeiro, o principal [...].
De acordo com o Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento[7], Protótokos significa: dar
à luz o primogênito (DIT, 2000, p.1852).
De acordo com o Novo
Dicionário da Bíblia[8], a expressão “Primogenitura”
é apresentada da seguinte forma: “os primeiros filhos nascidos de um casal
usufruíam certos direitos e privilégios que não eram partilhados pelos outros
filhos mais moços. O filho mais velho, habitualmente, desfrutava os direitos de
sucessão na família, de que se tornava chefe e representante”. (DAVIS, 2011, p.1004)
De acordo com a Pequena
Enciclopédia Bíblica[9], Primogênito tem a
seguinte definição: O filho mais velho. (BOYER, 1998, p.509)
Primogênito
significa, então, “Primeiro Filho Gerado Entre Outros”.
Por outro lado, a
palavra Unigênito significa: “Único Filho Gerado”.
Por isso, se Jesus
fosse filho único de Maria não seria utilizada a palavra primogênito e sim unigênito,
que é utilizado em João 3:16 ao falar da filiação de Cristo com relação a Deus,
o Pai.
Isso é exatamente o que dizem os especialistas em grego, a
exemplo dos Drs. Lothar Coenen e Colin Brown[10].
Vejamos:
No sentido lit., Lc
2:7. “esta é a única ocasião no NT quando, mediante o emprego paronomástico de tiktein, prôtotokos se refere inequivocamente ao processo do nascimento, e
isto no sentido natural” (W. Michaelis, TDNT VI 876). “Primogênito” pode,
possivelmente, transmitir a implicação de que Jesus foi o primeiro entre vários
filhos (cf. Mc 6:3). Ou pode enfatizar, tendo em vista a alusão em Lc 1:27,34 à
virgindade dela, que Maria não tivera outros filhos antes. De qualquer modo,
porém, prôtotokos não exclui outros
filhos de Maria. (Vol. II, 2000,
p.1851,1852)
Ou seja, o termo prôtotokos enfatiza que Maria não
teve outros filhos antes de Jesus. Por isso que Ele é o primogênito (primeiro
gerado), e também não exclui o fato dela, Maria, ter tido outros filhos depois
de Jesus. Portanto, a virgindade de Maria é assumida biblicamente apenas no que
se refere ao período anterior a concepção de Jesus e durante Sua gestação, e
não depois disto.
A palavra primogênito aparece em todos esses textos do Novo Testamento:
Lc 2:7,23; Rm 8:29; Cl 1:15,18; Hb 1:6, 11:28, 12:23; Ap 1:15. Vejamos as suas
aplicações:
Romanos 8:29: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos”
Veja: “primogênito entre muitos irmãos”. Ou seja, foi o
primeiro a ser gerado, vindo depois outros irmãos.
Apocalipse 1:5: “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel
testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra.
Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados”
Veja: “primogênito dentre os mortos”. Ou seja, Jesus é o
primeiro que foi ressuscitado glorificado, vindo depois Dele outros que também
serão ressuscitados no arrebatamento da Igreja, com corpo glorificados (1Ts
4:14-18; Ap 20:5,6).
Sobre a história, e a etimologia da palavra primogênito
(Prôtotokos) os Drs. Lothar Coenen e Colin Brown ainda revelam o seguinte:
[...] as duas raízes
das quais a palavra deriva, protos, “primeiro” entre vários, e tekein, que se
refere à descendência física, ao nascimento, já não desempenham papel no
significado. Ver, por exemplo, Êx 4:22. Em Sl 89:27 e segs., o pensamento é de
adoção, i.é a outorga de direitos e honras legais especiais. Deve-se notar que,
enquanto prôtotokos se emprega no AT
como título de honra para os escolhidos, aqueles que receberam a graça, não se
acha com qualquer sentido escatológico ou soteriológico. (Vol. II, 2000, p.1851)
Em outras palavras, o que os Drs. Lothar Coenen e Colin
Brown estão explicando, historicamente, é que o emprego do termo Primogênito no
Antigo Testamento é diferente de seu emprego no Novo Testamento.
Agora, o que é que o Veritatis Splendor faz?
Ele usa os textos do Antigo Testamento, que possuem outra
aplicação, para distorcer o significado daquilo que o Novo Testamento
apresenta.
Temos então duas opções: 1) Desonestidade intelectual e
cultural; 2) Desconhecimento intelectual e cultural.
Em ambos os casos não se justifica a DETURPAÇÃO DA HISTÓRIA
e do conteúdo bíblico.
Veritatis Splendor:
José "conheceu" Maria?
No Evangelho de São Mateus lemos: "José não
conheceu Maria [não teve relações com ela] até que ela desse à luz um
filho." (Mt 1,25).
Neste trecho os protestantes entendem que depois
do parto, José "conheceu" Maria.
Quem entende o mínimo de exegese bíblia e
cultura judaica, saberá que o Evangelho de Mateus é coberto de
"aramaísmos", isto é, expressões típicas da língua aramaica e
hebraica, que quando traduzidas para outra língua não possuem o mesmo
significado.
RESPOSTA:
Em primeiro lugar, quem está habituado com exegese bíblica,
na verdade, sabe que a expressão “conhecer”, do grego γινώσκω (ginôskô), tem
vários sentidos e aplicações, significando: saber, conhecer, compreender,
perceber etc. Mas, também, a palavra pode significar: “conhecer de modo
pessoal”, “relacionamento de confiança entre pessoas” (COENEN; BROWN, Vol. I, 2000,
p.392). Ainda, os Drs. Coenen e Brown afirmam que:
Na LXX[11], o grupo de palavra ginôsko é usado, principalmente, para
traduzir palavras formadas da raiz heb. yâda'
que tem uma gama muito larga de sentidos [...] “Conhecer” também pode
significar “ter relação sexual com” (Gn 4:1; 19:8; cf. 2:23) (COENEN; BROWN, Vol.
I, 2000, p.395)
O primeiro ponto que é propositalmente ignorado pelos
católicos é que a palavra “conhecer” no texto de Mateus 1:25 significa “ter
relação sexual”.
Agora, o que o texto de Mateus 1:25 diz literalmente é isso:
“e não a conheceu enquanto ela não deu à luz um filho; e pôs-lhe o nome de
JESUS”. Ou seja, José não teve relação sexual com Maria “enquanto” ela não deu
à luz um filho (Jesus).
Em outras palavras, depois que Jesus nasceu, após o chamado
“resguardo”, Maria teve relações sexuais com José como qualquer outro casal o
faria naturalmente.
Diante disso, a afirmação católica se torna mais complicada
ainda, porque se Maria não teve outros filhos depois de Jesus, mas teve
relações sexuais com seu esposo – José, por que não engravidou de outros
filhos?
Será que Maria era estéril?
Claro que não, pois ela já havia dado à luz à Jesus.
Portanto, o argumento católico não passa de uma manipulação
do texto bíblico, para que a Escritura diga aquilo que Ela não está dizendo.
Os Drs. Coenen e Brown ainda afirmam:
O emprego universal da
LXX na igreja primitiva, assim como no judaísmo da diáspora, garantiu uma
continuidade linguística entre os documentos do AT e do NT, ou melhor: entre os
termos disponíveis e seu emprego no kerygma do NT [...] Este fato se aplica às
relações sexuais (Mt 1:25;Lc 1:34) (COENEN; BROWN, Vol. I, 2000, p.398)
Ou seja, o termo utilizado em Mateus 1:25 significa “ter
relação sexual”.
Esse hebraísmo, ou “aramaísmo” como dizem alguns católicos,
pode ser demonstrado com o exemplo de Adão e Eva em Gênesis 4:1: “Conheceu Adão
a Eva, sua mulher; ela concebeu e, tendo dado à luz a Caim, disse: Alcancei do
Senhor um varão”.
Esse “aramaísmo” é utilizado com relação ao casal Adão e
Eva, e no Novo Testamento com relação a José e Maria.
Agora, utilizando o mesmo argumento católico, nós podemos
dizer: “Quem entende o mínimo de exegese bíblia e cultura judaica” deve saber
disso claramente.
Veritatis Splendor:
“A expressão "até que",
"até" ou "enquanto" na linguagem bíblica, diz respeito somente
ao passado”.
RESPOSTA:
Para tentar respaldar sua colocações infundadas, utilizam as
passagens de Mt 28:20; 2Sm 6:23; Gn 8:7 e 28:15.
Vejamos tais passagens então:
AFIRMAÇÃO
DO VERITATIS SPLENDOR:
"Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos." (Mt
28,20) (grifo meu). Será que o versículo quer dizer que após a consumação dos
séculos, Jesus não estará mais com a Sua Igreja?
RESPOSTA:
A expressão “até”, do grego ἕως, é um advérbio de tempo e
pode ser traduzido como: Enquanto. Também funciona como uma preposição genitiva
de tempo, sendo traduzida como: Até, até que.
O termo “até” não é utilizado para se referir somente ao
passado, como dizem os católicos, mas aqui, em particular, é utilizado para
enfatizar a expressão “consumação dos séculos”.
A “consumação dos séculos”
(συντελείας τοῦ αἰῶνος - synteleías tou aiônos) tem um significado diferente daquele
que é afirmado pelos católicos. Vejamos:
O termo syntéleia
se refere ao encerramento das coisas. Significa: fim, término, completação (GINGRICH;
DANKER, 2000, p.200)[12].
Ainda, o termo aiônos
significa: tempo muito longo, eternidade (GINGRICH; DANKER, 2000, p.14). Por
isso a expressão bíblica ἐκ τοῦ αἰῶνος (ek
tou aiônos), significa: “desde que o mundo começou”. E a expressão bíblica εἰς τὸν αἰώνα (eis
ton aiôna) significa: “por toda a eternidade, para sempre”.
Por isso a interpretação católica está errada.
O fato é que a eternidade não tem fim, pois se tivesse não
seria eternidade. Então, o que Jesus está dizendo é que já que a eternidade não
tem fim, Ele estará com a Igreja para sempre.
A consumação dos séculos é simplesmente a eternidade.
AFIRMAÇÃO
DO VERITATIS SPLENDOR:
"Micol, filha de Saul, não teve filhos até ao dia de sua morte" (2 Sam
6,23) (grifo meu). O escritor sagrado quer dizer que depois de sua morte, Micol
teve filhos?
RESPOSTA:
É evidente que Mical não teve filhos após a sua morte. Isso
é óbvio.
O que o texto está dizendo é que Mical, que era filha de
Saul, foi condenada por Deus a nunca ter filhos. Ela morreu sem deixar filhos.
Ela não teve filhos até o dia de sua morte.
Aqui, a expressão é utilizada com o sentido de continuidade.
Ou seja, a condenação de Deus sobre Mical, a esterilidade, durou por toda a sua
vida até a sua morte.
Esse é mais um exemplo de um texto que é utilizado
isoladamente para defender uma posição errada.
AFIRMAÇÃO
DO VERITATIS SPLENDOR:
Falando Deus a Jacó do alto da escada que este vira em
sonhos, disse-lhe: "Não te abandonarei, enquanto não se cumprir tudo o que disse" (Gn 28,15) (grifo
meu). Depois que se cumprir o que o Senhor disse, Ele então deveria abandonar
Jacó?
RESPOSTA:
Mais uma vez, vemos um exemplo claro de distorção do
significado do texto bíblico por parte dos católicos.
Aqui, em particular, Deus – o SENHOR – está reafirmando a
aliança feita com Abraão (Aliança Abraâmica), que também foi renovada com
Isaque e agora com Jacó, neste lugar que foi nomeado de BETEL (Casa de Deus).
Se o leitor der um pouco mais de atenção ao texto, e ler a
passagem por completo verá que Deus disse:
“[...] Eu sou o
Senhor, o Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra em que estás
deitado, eu a darei a ti e à tua descendência; e a tua descendência será como o
pó da terra; dilatar-te-ás para o ocidente, para o oriente, para o norte e para
o sul; por meio de ti e da tua descendência serão benditas todas as famílias da
terra”.
O Senhor está afirmando para Jacó que “não te deixarei até
que haja cumprido aquilo de que te tenho falado” (Gn 28:15). Ou seja, a
promessa da Aliança se refere à toda a nação de Israel, e ainda hoje a promessa
não se cumpriu por inteiro. Essa é uma promessa que só se cumprirá no futuro,
muito embora parte dela já tenha ocorrido, se compararmos o texto de Jeremias
30:3,4 com os eventos ocorridos na fundação do Estado de Israel em 1948.
O que Deus está dizendo aqui, é que Jacó não seria
abandonado, pois a promessa só se cumpriria no futuro. Isto é, ao invés de
lançar alguma dúvida sobre a segurança de Jacó, Deus está lhe dando certeza de
segurança constante.
A utilização desse texto isolado por parte dos católicos só
demonstra o que há muito tempo afirmamos: Que um de seus muitos males é que não
lêem o texto por inteiro, mas apenas os pedaços que parecem ser convenientes
aos seus interesses.
AFIRMAÇÃO
DO VERITATIS SPLENDOR:
Em Gênesis lemos: "[Noé] Soltou o corvo que foi e não
voltou até que as águas secassem
sobre a terra" (Gn 8,7) (grifos meus). Aqui não significa que o corvo
voltou após as águas secarem, o que se quer é dar ênfase ao fato de que ele não
voltou, mostrando que as águas finalmente secaram.
RESPOSTA:
A Bíblia Ave Maria
diz assim: “e deixou sair um corvo, o qual saindo, voava de um lado para outro,
até que aparecesse a terra seca” (Gn 8:7).
A Bíblia da CNBB
diz assim: “e soltou o corvo, que ia e vinha, esperando que as águas secassem
sobre a terra” (Gn 8:7).
A Bíblia Sagrada
Católica diz assim: “e soltou um corvo, que ia e vinha, esperando que as
águas secassem sobre a terra” (Gn 8:7).
A Bíblia de Jerusalém
diz assim: “e soltou o corvo, que foi e voltou, esperando que as águas secassem
sobre a terra” (Gn 8:7).
Em primeiro lugar, é interessante ver um católico utilizar
uma versão bíblica que não se encontra em nenhuma outra versão bíblica católica
reconhecida. Por que será?
Bem, isso não vem ao caso nesse momento.
Enfim, a ênfase do texto está em simplesmente revelar que o
corvo ficava voando até que aparecesse terra seca. Só isso.
É justamente aqui que o argumento católico se vira contra
ele mesmo. Vejamos:
O termo “até que” é utilizado para mostrar que houve uma mudança
no comportamento do corvo. Se antes ele voava de um lado para outro, agora já
não voava mais, pois surgiu terra seca. Ele só estava voando “até que” surgisse
terra seca.
A ideia aqui é que o termo “até que” mostra uma mudança de
atitude.
É exatamente isso que ocorreu com José e Maria. José não
“conheceu” Maria “até que” ela desse à luz um Filho.
A expressão “até que” mostra uma mudança na atitude de José.
Por comparação vemos o seguinte:
O corvo voava “até
que” surgisse terra seca.
José não coabitou com
Maria “até que” ela desse à luz.
O corvo pousou na
terra quando esse “até que” se cumpriu.
José coabitou com
Maria quando esse “até que” se cumpriu.
O leitor deve observar até que ponto chega a falta de
atenção e distorção do catolicismo na sua interpretação bíblica.
AFIRMAÇÃO
DO VERITATIS SPLENDOR:
Desta forma, em Mt 1,15, não significa que depois do parto
José deveria "conhecer" Maria. O Evangelista quer mostrar aqui o
milagre da encarnação do Verbo, que aconteceu por obra do Espírito Santo, sem a
intervenção do homem (cf. Is 7,14).
RESPOSTA:
Em primeiro lugar o texto não é Mateus 1:15, e sim Mateus
1:25.
Mas tudo bem, erros de digitação podem ocorrer com qualquer
pessoa, inclusive comigo, pois não somos perfeitos.
O que Mateus 1:25 nos diz claramente é isso: “Contudo, não a
conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus”. Ou
seja, enquanto Maria não deu à luz, José não a “conheceu” (não coabitou com
ela).
O texto é bastante claro, como já vimos, que essas
expressões mostram uma mudança de ação, uma mudança de atitude. Então, se ele
não coabitou com Maria “até que”, ou “enquanto”, isso quer dizer que após o
resguardo a atitude mudou, e José e Maria, como qualquer outro casal fizeram
sexo em um leito matrimonial que é abençoado por Deus, sem mácula nem
defraudação.
Por outro lado, a ênfase dada no fato de Maria não ter praticado
sexo com José antes do nascimento de Jesus ocorre para que fique bastante claro
para o leitor que Jesus não foi filho de José, e sim que foi gerado pelo
Espírito Santo. Existe sim uma ênfase na geração miraculosa de Cristo. Mas em
nenhum momento, é excluído o fato de Maria ter vivido com José com marido e
mulher normalmente.
Então, surge a pergunta?
Por que tanta distorção por parte dos católicos para
defender que Maria não praticou sexo com seu esposo José?
Bem, dentre as muitas razões utilizadas para se defender
essa distorção, está a sua origem no gnosticismo, que sempre defendeu que o
pecado de Adão e Eva foi a prática do sexo, pois para os gnósticos,
tradicionalmente, o sexo é algo impuro[13].
E como os católicos querem de todo jeito colocar Maria em uma posição de
proeminência no céu ao lado de Cristo, como coredentora, intercessora,
medianeira, imaculada, rainha do Céu etc, afirmar que ela praticou sexo com seu
esposo e gerou outros filhos torna-se um absurdo para tais pessoas.
Mas, não é isso que a Bíblia nos mostra, pois ela viveu com
seu esposo como qualquer outro casal.
Veritatis Splendor:
A palavra
"irmãos" na Escritura Sagrada
Nossos irmãos protestantes alegam que em
diversos lugares, o Evangelho fala dos "irmãos" de Jesus, como por
exemplo: "estando Jesus a falar, disse-lhe alguém: eis que estão lá fora
tua mãe e teus irmãos querem ver-te" (Mt 12, 46-47; Mc 3,31-32; Lc
8,19-20).
É importante dizer que nas Sagradas Letras, as
palavras "irmão", "irmã", "irmãos" e
"irmãs" podem denotar qualquer grau de parentesco. Isto porque, as
línguas hebraica e aramaica não possuem palavras que traduzem o nosso
"primo" ou "prima", e serve-se da palavra "irmão"
ou "irmã". A palavra hebraica "ha", e a aramaica "aha",
são empregadas para designar irmãos e irmã do mesmo pai, e não da mesma mãe (Gn
37, 16; 42,15; 43,5; 12,8-14; 39-15), sobrinhos, primos irmãos (1 Par 23,21),
primos segundos (Lv 10,4) e até parentes em geral (Jó 19,13-14; 42,11). Existem
muitos exemplos na Sagrada Escritura.
RESPOSTA:
O único problema aqui é que os católicos utilizam o
artifício do hebraico para defender a sua distorção, só que o texto do Novo
Testamento não foi escrito em hebraico e sim em grego!
Os católicos citam textos como Gênesis 11:27, 13:8, 14:12,14,
29:12-15 para defender suas posições distorcidas, mas repetimos: Esses textos
estão no hebraico (Antigo Testamento) e nós estamos lidando com o grego (Novo
Testamento).
Portanto, apenas alguém que não conhece de exegese bíblica
pode cair numa cilada linguística dessa. Isso é falta de boa fé. Isso é
desonestidade cultural, intelectual, religiosa e moral.
É preciso lembrar mais uma vez que já vimos que, historicamente,
o uso de termos do Antigo Testamento (hebraico) no Novo Testamento (grego) têm
muitas vezes o seu emprego diferenciado (COENEN; BROWN, 2000, p.1851)
Em outras palavras, para defender a sua posição distorcida o
que é que o Veritatis Splendor faz?
Ele usa os textos do Antigo Testamento, que possuem outra
aplicação, para distorcer o significado daquilo que o Novo Testamento
apresenta.
Isso continua se configurando como desonestidade, ou
desconhecimento (na melhor das hipóteses).
AFIRMAÇÃO
DO VERITATIS SPLENDOR:
Assim a qualificação de alguém pela palavra
"irmão" ou "irmã" em relação ao Senhor, não significa
necessariamente que fossem irmãos de fato. A única certeza que se pode ter
neste caso é que eram parentes do Senhor.
RESPOSTA:
Como os textos em questão estão no Novo Testamento,
precisamos analisá-los no idioma em que foram escritos: Grego. Não estamos,
aqui, falando de textos que foram escritos em hebraico e traduzidos para o
grego. Não! Estamos falando de textos que foram escritos originalmente em
grego.
Sim! No grego existem palavras distintas para se referir a parentes,
irmãos, primos etc. Vejamos:
Irmão: ἀδελφός (adelfós)
Primo: ἀνέψιος (anepsios)
Parente: συγγενής (sungenês)
Família: πατριά, ou então οἶκος (patriá, ou então
oikos)
Filho: υἱός (huiós)
Mãe: μήτηρ (mêtêr)
O termo grego ἀδελφός (adelfós) é traduzido literalmente como irmão. O problema que
permanece para alguns é se este irmão aqui citado se refere a alguém com laço
sanguíneo ou laços espirituais. É um irmão de sangue (família), ou um irmão
espiritual (igreja)?
Veremos esse ponto
mais adiante!
De uma forma ou de outra, existe diferença sim entre irmãos
(ἀδελφός - adelfós) e primos (ἀνέψιος - anepsios) no grego. Por exemplo, em
Colossenses 4:10 o apóstolo Paulo diz o seguinte: “Saúda-vos Aristarco, prisioneiro
comigo, e Marcos, primo de Barnabé (sobre quem recebestes instruções; se ele for
ter convosco, acolhei-o)”.
Marcos é identificado como primo (anepsios) de Barnabé.
Se por um lado, em Cristo Jesus, em termos espirituais, Marcos
e Barnabé eram irmãos em Cristo (adelfós), por outro lado eram primos (anepsios),
por parte de família de sangue.
Portanto, a argumentação católica de que para irmão e primo
é utilizada a mesma palavra na Escritura não é verdade. Essa é uma afirmação infundada,
incoerente, falaciosa e falsa.
Veritatis Splendor:
A quem os
Evangelhos chamam de "irmãos" do Senhor?
Os Evangelhos qualificam algumas pessoas como
"irmãos" do Senhor. A primeira referência que encontramos está em São
Mateus [...] (Mt 13,55). Uma passagem correspondente encontramos em São Marcos
[...] (Mc 6,3).
RESPOSTA:
Mateus 13:55 cita Jesus como filho de Maria e Tiago, José,
Simão e Judas como irmãos de Jesus. Ora, se estes irmãos aqui citados (adelfós)
não são de irmãos de sangue, e sim irmãos no sentido espiritual, por que os
outros apóstolos não foram citados se também eram conhecidos pela população
local?
Se estes “irmãos” aqui citados são irmãos de igreja, irmãos
espirituais, por que os outros apóstolos não são citados se também são “irmãos”
espirituais?
Certamente porque o sentido de irmão, aqui nesse texto, não
é espiritual e sim familiar, sanguíneo, biológico.
Em Mateus 13:56, o versículo seguinte, é feita referência às
irmãs de Cristo. Seriam essas as irmãs no sentido espiritual, irmãs de igreja,
ou irmãs no sentido físico e familiar (sanguíneo, biológico)?
Bem, precisamos analisar todo o contexto da passagem e assim
acreditamos que o assunto ficará mais claro. Vejamos:
Mateus 13:55: “Não
é este o filho do carpinteiro?”
As pessoas que estavam ouvindo Jesus, e que não sabiam de
seu nascimento miraculoso, nem que Ele é Deus, o identificaram pelo seu
parentesco terreno, pela sua família de sangue.
Jesus era visto pelos moradores como ‘filho (huiós) de José’,
‘filho (huiós) do carpinteiro’.
Temos aqui a menção de um parentesco terreno, físico,
familiar, sanguíneo, biológico. Isso porque até então muitas pessoas não sabiam
da geração miraculosa de Jesus por parte do Espírito Santo, e pensavam que
Cristo era de fato filho biológico de José. Com isso, também já fica claro que
as pessoas da época não viam Maria como santa, imaculada e perpetuamente virgem,
como o catolicismo afirma, mas como uma mulher casada e com vida conjugal
normal, como qualquer outra pessoa.
Mateus 13:55: “não
se chama sua mãe Maria”.
As mesmas pessoas utilizam um grau de parentesco terreno,
familiar e sanguíneo, para se referir à Maria como ‘mãe (mêtêr) de Jesus’. Mais
uma vez fica claro que as pessoas da época não viam Maria como santa, imaculada
e perpetuamente virgem, como o catolicismo afirma, mas como uma mulher casada e
com vida conjugal normal, como qualquer outra pessoa.
Mateus 13:55: “e
seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?”
Agora, se as pessoas estavam utilizando graus de parentesco
físico, familiar, sanguíneo e biológico para identificar Jesus, porque quando
se referem a seus irmãos, dentro do mesmo texto e no mesmo contexto, este termo
teria outro sentido que não o de um grau de parentesco terreno, físico,
familiar, sanguíneo e biológico?
A argumentação católica não faz nenhum sentido à luz do
texto bíblico.
O que as pessoas disseram foi que Tiago, José, Simão e Judas
eram irmãos de sangue (adelfós) de Jesus, e consequentemente filhos de sangue
de Maria e de José.
Mateus 13:56: “E
não estão entre nós todas as suas irmãs?”
A mesma regra se aplica ao utilizar o termo ‘irmãs (ἀδελφή)’. Estas
eram as filhas de sangue de Maria e José.
Temos aqui mais uma menção de um parentesco terreno, físico,
familiar, sanguíneo e biológico.
Esse é o sentido natural do texto, já que as pessoas que ali
estavam falavam da família física e terrena de Cristo. Sua família biológica.
Mateus 13:57: “E
escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, a
não ser na sua pátria e na sua casa”.
Agora, devemos observar o que o próprio Cristo falou: “Não
há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa”.
O termo “casa” οἰκία (oikia), utilizado por
Cristo, é traduzido como: residência, domicílio, família (especialmente os domésticos).
Então, Jesus está dizendo quem nem sua casa, ou seja, nem a sua família
acreditava que Ele é o Messias.
Em outras palavras, Jesus está dizendo que aquelas pessoas
apesar de citarem a sua família biológica deveriam saber que nem a sua família
sanguínea cria nele. E é exatamente isso que o apóstolo João afirma em João
7:5: “Porque nem mesmo seus irmãos (adelfós) criam nele”.
Então, o contexto inteiro do que é tratado aqui se refere à
família física de Jesus, sua família sanguínea, com a presença de um pai, uma
mãe, Jesus mais quatro irmãos de sangue e algumas irmãs de sangue.
Não há porque negar uma verdade mais clara do que essa! A
menos que alguém tenha um compromisso com qualquer outra coisa que não seja a
verdade, a exemplo dos dogmas da mariolatria católica.
AFIRMAÇÃO
DO VERITATIS SPLENDOR:
1. A importância da expressão "uiós Marias".
Interessante notar que São Marcos usa a expressão grega
"uiós Marias", em português "o filho de Maria".
Considerando Mateus e Lucas, observe o leitor que apenas o "o filho do
carpinteiro" é chamado de "o filho de Maria" e não "um dos
filhos de Maria". Isso pode não fazer muita diferença em português, mas em
grego é muito significativo.
Primeiramente pelo fato da mulher ser a última das criaturas
no mundo antigo, normalmente a filiação de alguém sempre referenciava o pai.
Por exemplo: "o filho de Jonas", "o filho de Alfeu", etc.
Mas São Marcos ao falar da filiação de Cristo, não aponta para José, mas para
Santa Maria, utilizando uma expressão que normalmente só era usada para
designar filhos únicos.
É claro que esta ocorrência incomum no Evangelho de Marcos
não é sem propósito. O Evangelista que mostrar que Cristo era o único filho de
Santa Maria.
RESPOSTA:
O uso do artigo definido é distorcido pelos católicos
propositalmente.
O uso do artigo definido, afirmam os católicos, é para
“mostrar que Cristo era o único filho de Santa Maria”.
Isso não é verdade.
A função do Artigo Definido é tornar definido o substantivo,
determiná-lo, como afirma o professor Waldyr Carvalho Luz[14]
(1991, p.306, 309).
Se a intenção do autor bíblico fosse aquela que os católicos
desejam, não deveria utilizar artigo definido e sim um numeral, pois os “numerais
podem ser tanto substantivos, como adjetivos ou advérbios [...] Cardinais, que
indicam quantidade (um, dois, cem, etc.). Ordinais, que indicam ordem (primeiro,
segundo, centésimo, etc.)”[15]
(REGA, 1999, p.165).
O fato é que a afirmação católica feita aqui ignora
completamente a gramática grega e distorce propositalmente o sentido do texto, pois
tentam fazer com que a Escritura Sagrada se acomode ao bem estar de seus dogmas.
O professor Lourenço Stelio Rega ainda afirma que
“basicamente a função do artigo é a de identificar. Geralmente a presença do
artigo indica identidade e na sua
ausência o que é enfatizado é a qualidade”
(REGA, 1999, p.168).
Então, o artigo definido está identificando quem é este
Jesus, já que o nome Jesus era bastante comum naquela época. Simplesmente isto.
Aqui, não existe nenhuma intenção do autor em mostrar “que
Cristo era o único filho” de Maria. Essa afirmação católica é um completo abuso
da gramática grega e um total abandono daquilo que a Escritura está dizendo.
AFIRMAÇÃO
DO VERITATIS SPLENDOR:
2. A Carta de São Paulo aos Gálatas
Segundo nossos irmãos protestantes, os supostos irmãos de
sangue de Jesus seriam: Tiago, José, Simão e Judas. É o que o eles afirmam
lendo Mt 13,55 e Mc 6,3, confiando que estão sendo guiados pelo Espírito Santo.
Dizem ainda que São Paulo confirma isto, pois na carta aos Gálatas ele escreve:
"Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas [Pedro], e fiquei
com ele quinze dias. E dos outros apóstolos [que estão em Jerusalém] não vi a
nenhum, senão a Tiago, irmão do Senhor? (Gl 1,18-19).
RESPOSTA:
Os católicos fazem uma embaralhada em suas afirmações para
parecer que os protestantes se contradizem. Mas, vamos por partes para vermos
de quem é a contradição realmente.
Inicialmente são encontrados quatro Tiagos no Novo Testamento:
1) Tiago, irmão de Jesus (Mt 13:55);
2) Tiago, filho de Zebedeu. Conhecido como Tiago, o maior, irmão
de João (Mt 4:21);
3) Tiago, filho de Alfeu. Conhecido como Tiago, o menor (Mc
15:40);
4) Tiago, pai de Judas Tadeu (Lc 6:16; At 1:13).
Em primeiro lugar, é importante destacar que Tiago, irmão de
Jesus, tornou-se um líder proeminente na igreja em Jerusalém (At 12:17, 15;13,
21:18), mas não veio a ser apóstolo.
Em segundo lugar, houveram dois apóstolos chamados Tiago (Mt
10:2-4, Mc 3:16-19). Um era Tiago maior (filho de Zebedeu) e outro era Tiago
menor (filho de Alfeu).
Em resumo, diante de tudo o que já foi visto até o momento,
o termo adelfós (irmão) pode ter o sentido de irmão de sangue e irmão
espiritual. O que vai definir o significado do termo é o contexto no qual a
palavra está envolvida.
O que os católicos fazem?
Eles utilizam o texto de Gálatas 1:18,19 para dar a entender
que o Tiago ali citado era o mesmo Tiago de Mateus 13:55. O problema é que apesar
de Tiago, irmão de sangue de Jesus, ser um líder proeminente na igreja de
Jerusalém ele não era apóstolo, e o Tiago citado por Paulo em Gálatas 1:18,19
era apóstolo. Logo não pode ser Tiago filho de Maria.
Só nos resta entender que o Tiago de Gálatas 1:18,19 ou era
Tiago Maior ou Tiago Menor. Porém, como Tiago o Maior (filho de Zebedeu) já
havia sido morto nessa ocasião (At 12:1,2) entendemos que este Tiago, a quem Paulo
se refere em Gálatas 1:18,19, era Tiago o menor (filho de Alfeu).
Ainda, como não há um termo que qualifique o substantivo
“irmão” no texto de Gálatas, temos que entendê-lo nesse texto como tendo o
sentido espiritual e não físico ou familiar (sanguíneo).
Por isso, quando Paulo fala “Tiago irmão do Senhor”, em
Gálatas, está falando de uma irmandade espiritual.
Não adianta forçar o texto mais uma vez para ele dizer
aquilo que não diz.
CONCLUSÃO
Não há porque misturar os quatro Tiagos para fazer um
malabarismo de tal forma que pareça que Maria não teve outros filhos e Jesus
não teve irmãos e irmãs de sangue, irmãos biológicos.
Ao analisarmos os textos no grego, mediante a confirmação de
dicionários, léxicos e vocabulários fica bastante claro que Jesus teve irmãos e
irmãs por parte de Maria.
Como já vimos, a origem do pensamento da virgindade perpétua
de Maria é de origem gnóstica, e o gnosticismo foi um pensamento bastante
combatido pelos apóstolos no primeiro século.
A ideia de uma Virgindade perpétua de Maria não é apostólica
e muito menos bíblica.
No site do Vaticano[16]
é declarado na Carta Encíclica Sacra Virginitas, do Papa Pio XII, o seguinte:
Por meio dela entrou a
virgindade no mundo, como nota santo Atanásio, e santo Agostinho ensina
claramente que "a dignidade virginal começou com a Mãe de Deus".
Seguindo o mesmo santo Atanásio, propõe santo Ambrósio a vida da Virgem Maria
como exemplar para as virgens: "Imitai-a, minhas filhas,... a vida de
Maria seja para vós a imagem da virgindade, da qual irradie como de espelho o
encanto da castidade e o ideal da virtude. Seja ela o exemplo da vossa vida,
pois os seus admiráveis ensinamentos mostram o que deveis corrigir, copiar e
conservar... Ela é o modelo da virgindade. É tal a natureza de Maria que, para
lição de todos, basta a sua vida... Por conseguinte, Maria deve ser a regra de
nossa vida". "Tão grande era a sua graça, que não só conservava em si
a virgindade, mas comunicava o dom da integridade àqueles que visitava". Santo
Ambrósio tinha razão de afirmar: "Oh, riquezas da virgindade de
Maria"! Por causa dessas riquezas, é da maior importância que, ainda hoje,
as religiosas, os religiosos e os sacerdotes contemplem a virgindade de Maria
para observarem com mais fidelidade e perfeição a castidade do próprio estado.
(VATICANO, online)
Por último, sobre a suposta perpétua virgindade de Maria,
leia o artigo “O DOGMA DA VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA”[17].
Diante de tudo o que foi exposto não temos outra opção a não
ser concordar com a Escritura Sagrada que demonstra claramente que Maria teve
filhos e filhas de sangue, irmãos biológicos de Jesus Cristo.
Enquanto ele ainda
falava às multidões, estavam do lado de fora sua mãe e seus irmãos, procurando
falar-lhe. Disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, e
procuram falar contigo. Ele, porém, respondeu ao que lhe falava: Quem é minha
mãe? e quem são meus irmãos? E, estendendo a mão para os seus discípulos disse:
Eis aqui minha mãe e meus irmãos.
Que Deus lhe abençoe e lhe traga luz à mente para
compreender as Sagradas Escrituras.
Robson T. Fernandes.
[1]
O artigo “O DOGMA DA VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA” está disponível em: http://caleberobson.blogspot.com.br/2013/10/o-dogma-da-virgindade-perpetua-de-maria.html#more.
[2]
A argumentação contra a perpétua virgindade de Maria pode ser vista no artigo O
DOGMA DA VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA.
[3]
Quem são os "irmãos" de Jesus?.
Disponível em: http://www.veritatis.com.br/apologetica/maria-santissima/547-quem-sao-os-irmaos-de-jesus. Acesso em: 10 out 2013.
[4]
Primogênito. Disponível em: http://www.bibliacatolica.com.br/dicionario-biblico/15/#.UlaWStKsiSo.
Acesso em 10 out 2013.
[5]
Dicionario Bíblico Strong
Hebraico/aramaico/grego. Disponível em: http://biblesuite.com/greek/4416.htm.
Acesso em: 10 out 2013.
[7]
COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000.
[12]
GINGRICH, F. Wilbur; DANKER, Frederick W. Léxico
do NT Grego/Português. São Paulo: Vida Nova, 2000.
[13]
Existe uma grande divisão de pensamento dentro da filosofia gnóstica, e aqui,
alguns gnósticos não vêem problema na vida sexual ativa, seja ela promíscua ou
não. Mas tradicionalmente, a maioria dos gn´soticos entendem o sexo como algo
pecaminoso.
[16]
Carta Encíclica Sacra Virginitas. Disponível
em: http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_25031954_sacra-virginitas_po.html.
Acesso em 10 out 2013.
[17]
O artigo “O DOGMA DA VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA” está disponível em: http://caleberobson.blogspot.com.br/2013/10/o-dogma-da-virgindade-perpetua-de-maria.html.