quarta-feira, 19 de março de 2014

MARIA: A MULHER QUE ACHOU GRAÇA DIANTE DE DEUS


Uma reflexão sobre a pessoa de Maria em comparação com a pessoa de Jesus em Lucas 1:30-35

 Pr. Robson T. Fernandes
Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus. (Lc 1:30-35)
Em Lc 1:30-35 o anjo Gabriel aparece à Maria e lhe revela coisas importantíssimas que merecem ser destacadas:

1) “achaste graça”

O termo grego “achaste” significa: “recebeste”. Ou seja, ela recebeu porque até então não tinha. Ainda, a expressão “graça” significa: favor imerecido. Dessa forma, Maria recebeu da parte de Deus aquilo que nem tinha e nem merecia.

2) “conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus”

A graça recebida sem merecimento foi a capacidade de gerar um filho. Mas, não era um simples filho, e sim Aquele que seria chamado de Jesus, cujo nome significa: “Deus é a salvação”. Dessa forma, Maria não pode salvar, mas foi agraciada por Deus, mesmo sem merecer, com o dom de gerar em seu ventre aquele que é o Salvador.

3) “Este será grande”

O termo grande significa: “poderoso”. Então, é importante observar que todo o destaque é dado à Jesus, e não à Maria. Por isso, a grandiosidade está colocada sobre os ombros de Jesus e não de Maria, a mãe da natureza humana do Salvador.

4) [Ele] “será chamado Filho do Altíssimo”

O título “Filho do Altíssimo” apresenta a divindade de Cristo. Este é um termo semelhante ao que o apóstolo João utiliza em Jo 3:16, quando se refere a Jesus Cristo como o “unigênito do Pai”. Ou seja, aquele que possui a mesma essência que o Pai celestial. Isso é confirmado pelos apóstolos (Cl 1:19, 2:9; Jo 1:1,14). Então, o título de divindade é dado à Cristo, e não à Maria.

5) “Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai”

O trono de Davi seria dado à Jesus. Ou seja, o poder, capacidade e direito ao trono é dirigido à Cristo.

O trono de Davi é uma figura utilizada na Sagrada Escritura para se referir ao governo da nação de Israel, é uma alusão a Aliança Davídica (2Sm 7:4-17), que garantia ao rei Davi que a sua descendência, linhagem, sentaria no trono para reinar esta nação para sempre (2Sm 7:9), e o seu último descendente é Jesus (Jo 1:49). Ainda, a importância da nação de Israel se dá no fato de que Deus elegeu esta nação para que fosse luz para o mundo. Dessa forma, o rei desta nação tem a função de guiá-la na obediência do plano de Deus. Ainda, esta nação foi responsável por receber a Palavra de Deus, mantê-La e ensiná-La através dos profetas e sacerdotes. Por tudo isso, Jesus é o centro da atenção diante daquilo que o anjo fala à Maria, especialmente porque Ele é identificado no Novo Testamento como o Profeta (Jo 4:19; Hb 1:1), Sacerdote (Hb 2:17, 3:1) e Rei (Ap 15:3, 17:14, 19:16).

6) “ele reinará para sempre” ... “o seu reinado não terá fim”

Jesus é identificado como rei três vezes apenas entre os versículos 32 e 33: “trono de Davi”, “reinará para sempre”, “seu reinado não terá fim”.

O rei é Jesus, o reinado está posto sobre Jesus e o seu reinado nunca terá fim. Este reino não está relacionado apenas a nação de Israel, mas a toda a terra, sobre toda a criação.

É importante destacar que o seu reino sobre Israel não diz respeito apenas aos nascidos na nação de Israel (o Israel nacional, físico), mas também àqueles que não nasceram na nação de Israel, mas que são salvos por Cristo. A estes o apóstolo Paulo chama de verdadeiro Israel (o Israel espiritual) (Rm 9:7,8; Gl 3:29, 6:16; Ef 2:12). Ainda, o seu reino se estende sobre toda a Terra (1 Tm 6;15; Ap 17:14, 19:16) e sobre toda a criação (Ef 1:20,21; Jd 1:25).

Esta qualidade, atributo e capacidade são exclusivos de Jesus Cristo. Portanto, atribuir algum tipo de reinado ou trono celestial à Maria é o mesmo que negar aquilo que a Sagrada Escritura ensina e usurpar o que só pertence à Cristo.

7) “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra”

Por que o Espírito Santo desceria sobre Maria e a envolveria?

Ela mesma explicou o motivo em seu canto de louvor: “Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (Lc 1:46,47).

Em primeiro lugar, porque só o Senhor é Deus. É importante observar que Maria chama Jesus de “Senhor”, e não a si mesma de senhora.

Em segundo lugar, ele reconhece publicamente a necessidade de ter para si mesma o “Salvador”. Mais adiante, o próprio Jesus declara isso: “Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores” (Mc 2:17). Ou seja, o próprio Jesus disse que quem precisa de “médico” é quem está doente, e que Ele não veio chamar quem se julga justo e sim quem reconhece ser um pecador.

Dessa forma, Maria entende claramente a mensagem do anjo e reconhece ser uma pecadora carente da Graça, da Misericórdia e da salvação Divina. Ela reconheceu ser pecadora por natureza e se alegrou em Deus porque, mesmo sem merecer, recebeu a salvação através do único e suficiente Salvador.

Por isso que o poder do Altíssimo envolveria Maria, para que a sua natureza pecaminosa não contaminasse Jesus em seu ventre. E é exatamente por isso que na sequência Jesus continua sendo chamado de santo. Exatamente porque a ação do Espírito Santo na vida de Maria evitou que a sua natureza caída contaminasse Cristo Jesus.

8) “o ente santo”

Jesus sendo santo não poderia jamais receber uma natureza caída, pecaminosa.

O Espírito Santo envolve Maria para evitar que sua natureza contaminasse a natureza de Jesus. Então, Jesus assume para si a natureza humana na condição que Adão tinha antes que pecasse no Éden. Cristo assume a natureza humana sem o pecado humano. Por isso é chamado de “ente santo”.

9) “será chamado Filho de Deus”

Mais uma vez, Cristo é identificado como o Filho de Deus, aquele que tem a mesma natureza e essência do Pai, Deus.

Jesus não começa a existir nesse momento. Ele já existia antes, desde a eternidade passada. Isso é confirmado pelo profeta Isaías no capítulo 9 versículo 6: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, PAI DA ETERNIDADE, Príncipe da Paz”. Ora, se a eternidade não tem começo e nem fim, o que diremos do pai dela? Este menino que nos nasceu é o mesmo filho que se nos deu, ou seja, que se deu à nós, e Ele é identificado como sendo “Deus” e como sendo o “Pai da eternidade”.

Jesus aparece em diversas passagens do Antigo Testamento, falando como Deus, agindo como Deus e se revelando como Deus, mas não usa o nome de Jesus. Este nome, só passa a ser utilizado no Novo Testamento, quando o “Deus forte” e “pai da eternidade” decide assumir a forma de um homem na condição que Adão tinha antes de pecar no Éden.

Por último, Jesus não é o Pai, mas é Deus. Aqui reside o mistério da Triunidade, em que temos três pessoas distintas, mas um só Deus, como será visto mais adiante.

CONCLUSÃO

Enquanto Maria recebe a Graça sem merecer, Jesus é a própria Graça. Enquanto Maria reconhece a sua necessidade do Salvador, Jesus é apresentado como sendo este único Salvador.

Jesus é o único que é apresentado como Salvador; é o único que é identificado como grande; é o único a quem é atribuído a Divindade; é único que é visto como Rei dos céus, da terra, do universo e de toda a criação; é o único que é mostrado como eterno; é o único chamado de santo; é único que é único!

Em nenhum momento Maria é chamada de salvadora, ou co-salvadora (corredentora), não é chamada de santa e não é vista como rainha. Antes, é vista como pecadora carente da Graça de Deus e necessitada do Salvador e do favor Divino para cobrir seus pecados.

Diante de tudo isto Maria não se sentiu agredida, magoada ou atacada. Muito pelo contrário, o que ela declarou com toda a sinceridade deu coração foi isto: “Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome” (Lc 1:46-49).

Portanto, esperamos que a revelação de toda esta verdade, tão clara, também alegre o seu coração, assim como também alegrou o coração de Maria.