terça-feira, 7 de julho de 2015

DEIXAI VIR A MIM AS CRIANCINHAS


 Uma reflexão sobre o ministério da igreja com crianças

Robson T. Fernandes

Então, lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. (Mt 10:13,14)

Traziam-lhe também as crianças, para que as tocasse; e os discípulos, vendo, os repreendiam. Jesus, porém, chamando-as para junto de si, ordenou: Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. (Lc 18:15,16)

Entendemos que todo o trabalho feito com crianças, desde que seja bíblico, deve ser estimulado e propagado, especialmente porque também entendemos que as crianças de hoje já são parte da igreja hoje. Não podemos esperar que elas cresçam para só então receber o apoio que necessitam.

A infância é um momento crítico na formação humana, e aquilo que for feito nesta época da vida pode decidir muita coisa que virá a acontecer na vida desta quando for um adulto. Por esta razão, o texto de Provérbios 22:6 declara: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. Um ensino deficiente e um acompanhamento falho durante a infância resultará em “lacunas” na vida futura.

Sabendo de todas estas coisas, e de muito mais, Jesus ficou indignado com os discípulos porque foram estes que estavam impedindo as crianças de chegar até o Senhor. Agora, observe a contradição da ação dos discípulos, pois um discípulo é justamente a pessoa que foi chamada por Cristo para trazer as pessoas até Ele, e agora estão fazendo exatamente o oposto. Talvez na cabeça daqueles discípulos as crianças não tivessem a maturidade suficiente para ouvir a Cristo, ou talvez estivessem pensando que elas só atrapalhavam a obra. Observe o tamanho da contradição, pois Cristo queria as crianças e os seus pais e responsáveis traziam as crianças até Cristo, mas, os discípulos eram os únicos ali que estavam se sentindo incomodados com a presença das crianças naquele lugar, ao ponto de repreenderem as pessoas que estavam trazendo as crianças e tentavam impedir que estas tocassem em Jesus.

Fazendo uma aplicação rápida, nos vem a pergunta: Será que nós, discípulos de Cristo em pleno século XXI, com nossas ações e conceitos próprios não temos também feito a mesma coisa? Será que não temos cometido os mesmos erros? Será que as crianças em nossos ministérios e igrejas não têm sido tratadas como um incômodo? Será que nós não somos dignos de repreensão por isso também?

Muito embora seja difícil de reconhecer que sim, em muitos casos, não tem como enganar o Senhor que sonda os corações. E, no final de tudo, a nossa atenção para as crianças que chegam até nós e a nossa forma de tratá-las terminam denunciando o que está em nosso interior. Na verdade, a criança será a primeira a perceber que tipo de sentimento nós temos por ela.

Lembro-me de algumas cenas na minha infância quando amigos da nossa família vinham sorridentes para meus pais, mas me tratando como se eu nem existisse. Mesmo enquanto criança eu já pensava comigo mesmo: essa pessoa não gosta de mim, mas vem sorrindo para meus pais. Inconscientemente eu passava a enxergar aquela pessoa como uma rival, e essa distância de relacionamento só aumentava. Então, fico imaginando se isto também não tem ocorrido em nossas igrejas, quando nos aproximamos de Jesus sorrindo, mas não damos nem um tipo de atenção ou carinho às nossas crianças. Que tipo de confusão mental estamos causando em nossas crianças?

Portanto, não adianta um pastor dizer que gosta de crianças se a sua atitude não mostra isso. E aqui, não estamos falando simplesmente de atitude financeira ao investir em um Departamento Infantil, especialmente porque alguém pode dar todos os seus bens para os pobres e ainda assim não ter amor, como já disso o apóstolo Paulo em 1Coríntios 13:3. Muito embora investimento financeiro seja importante, melhorando as salas de aula, adquirindo material didático melhor e investindo em treinamento de professores, se não houver amor isso de nada aproveitará. Portanto, estamos falando, além de investimento financeiro, mais especificamente de um pastor que ame as crianças da sua igreja, dedicando tempo para elas, conversando com elas, brincando com elas e ensinando-as a amar a Deus sobre todas as coisas. Ensinando-as a amar a Deus por meio de seu próprio exemplo de vida.

Mas, por incrível que pareça, parece que afastar as crianças era um tipo de comportamento frequente entre os discípulos. Parece que eles insistiam nesse tipo de conduta distorcida, apesar de Jesus repreendê-los sempre. Isso é visto em Mateus 10:13,14 (Lucas 18:15,16) e posteriormente em Mateus 19:13-15, por exemplo. Parece que nós, apesar das diversas repreensões bíblicas, insistimos em repetir o mesmo erro daqueles discípulos, ao invés de imitar a Jesus.

Trouxeram-lhe, então, algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse; mas os discípulos os repreendiam.
Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus.
E, tendo-lhes imposto as mãos, retirou-se dali.
Mt 19:13-15

Até que ponto temos sido um meio para alcançar as crianças ou um obstáculo para que elas cresçam com Cristo? Será que o procedimento em alguns círculos não têm afetado nossas crianças e colaborado para o surgimento e propagação de novas distorções?

Não desejamos estabelecer o que será dito como uma regra, até mesmo porque não temos conhecimento de nenhum experimento que comprove o que será dito para se afirmar isso como um fato em geral, uma regra. Mas, com base em nossa experiência de vida, em nosso empirismo, temos observado que muitos daqueles que combatem a religião ou que exercem algum tipo de religiosidade distorcida, ou até mesmo o ateísmo, em algum momento de sua vida já tiveram uma passagem por alguma igreja, onde sofreram algum tipo de decepção e que é a razão de algum tipo de frustração, a exemplo de Joseph Smith, Charles Taze Russell, Friedrich Nietzsche etc.

Daí, podemos perceber que a nossa atitude com uma criança pode fazer com que esta adquira algum tipo de aversão contra a Igreja e, com isso, estaremos colaborando com a formação de um futuro inimigo em potencial da igreja.

Não podemos tratar as crianças que vêm às nossas igrejas como se estas só viessem a fazer de nossa comunidade em um futuro qualquer. Precisamos compreender claramente que aquelas que vêm até nós já estão sendo preparadas para fazer parte da nossa igreja agora. Eles não serão a igreja do futuro, já são parte da igreja de hoje. Ora, foi o próprio Jesus Cristo que disse “deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus” (Mt 19:14; Mc 10:14; Lc 18:16).

Se o Reino dos Céus é dos pequeninos, que dirá agora de uma instituição religiosa?

Por fim, não estamos defendendo com isso que as crianças participem do culto público em que não compreenderão a linguagem utilizada, tirarão a atenção dos adultos, não aprenderão nada e causarão certo tumulto na ordem do culto. Mas, defendemos sim que a igreja as integre no corpo, investindo parte dos seus recursos nos Departamentos Infantis. Precisamos investir em pessoas que trabalhem com crianças. Precisamos investir em crianças. Investir dinheiro, tempo, material, pessoal e amor, muito amor, carinho e atenção. Pois, fazendo isso, estaremos recebendo o próprio Jesus, o próprio Deus entre nós, em nossas igrejas.

Trazendo uma criança, colocou-a no meio deles e, tomando-a nos braços, disse-lhes: Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, não recebe a mim, mas ao que me enviou.
Mc 9:36,37


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