quarta-feira, 15 de julho de 2015

EXISTE PODER EM NOSSAS PALAVRAS?


 Uma abordagem crítica sobre a crença no poder das palavras

Robson T. Fernandes

Existe poder em nossa língua? Algumas pessoas insistem em afirmar que sim. Porém, antes de prosseguirmos, precisamos fazer alguns esclarecimentos necessários, para evitarmos confusões e mal entendidos sobre o assunto que estamos tratando.

Em primeiro lugar, é preciso distinguir a Palavra de Deus (Bíblia Sagrada) e as palavras pronunciadas por um ser humano. Nenhum cristão em sã consciência ousaria dizer que a Palavra de Deus (Bíblia) não tem poder. Claro que tem, pois esta é a Palavra de Deus (Bíblia). A nossa crítica, então, não diz respeito a Palavra de Deus (Bíblia), mas ao ensino de que as palavras pronunciadas por um ser humano têm poder. A nossa negação se refere às palavras na boca do homem, e não a Palavra de Deus (Sagrada Escritura, Bíblia Sagrada).

Em segundo lugar, entendemos que palavras ditas de forma errada podem magoar, ferir ou machucar alguém. Com isso, uma pessoa pode ser afetada emocionalmente com uma “palavra” dita na hora errada e de forma errada. Por exemplo, uma criança pode ser traumatizada emocionalmente pelos seus pais devido a xingamentos e desvalorizações. Esta criança pode crescer traumatizada por causa de uma criação errada. Mas, isso não diz respeito ao mundo espiritual, como pretendem os seguidores do Movimento da Fé. Uma coisa é ser ferido emocionalmente, outra coisa – totalmente diferente – é afirmar que as palavras de um filho de Deus podem trazer a existência coisas que não existem e produzir efeitos miraculosos.

Portanto, que fique bastante claro, mais uma vez, que em nenhum momento estamos afirmando que a Palavra de Deus não tem poder e nem que pessoas, incluindo crianças, não são afetadas emocionalmente por palavras duras e desmedidas.

EXPLICANDO PROVÉRBIOS 18:21

A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto.
Provérbios 18:21

Esse é um dos textos mais utilizados para se defender o suposto poder das palavras. Como podemos entender essa passagem bíblica? Especialmente quando o Movimento da Fé afirma que esse texto nos dá respaldo para acreditarmos que há poder em nossas palavras e que podemos mover o mundo espiritual com as nossas palavras de confissão positiva?

Para entender o versículo 21 devemos ler desde o versículo 19. Vejamos:

O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas contendas são ferrolho de um castelo. Do fruto da boca o coração se farta, do que produzem os lábios se satisfaz. A morte e a vida então no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto.
Provérbios 18:19-21

Normalmente os adeptos da confissão positiva utilizam apenas a metade do versículo 21 para defender que palavras têm poder no mundo espiritual, e esquecem até do resto do versículo, que diz assim: "o que bem a utiliza come do seu fruto".

Surgem, então, duas perguntas: 1) O que bem a utiliza? Utiliza o quê?; 2) Que fruto?

1) O que utiliza bem a língua! Mas o que significa isso? Exatamente o que diz o versículo 19, que é ter cuidado com o que fala para não ofender ou magoar o irmão. Um irmão magoado tem o seu coração como as portas de um castelo fechado com ferrolhos (versículo 19).

O versículo 20 nos diz que a pessoa que têm boas palavras é agradável e no final das contas "a boca fala do que está cheio o coração" (Lc 6:45b). Por isso, Romanos 10:15 diz que os pés de quem anuncia as boas novas são formosos. Pessoas que têm boas palavras são agradáveis. Lembrando, por último, que esta “boa palavra” não é uma palavra que faça a pessoa se sentir bem, mas uma palavra que faça bem. A diferença entre uma coisa e outra é que algumas pessoas se sentem bem com aquilo que faz mal. Mas, as vezes aquilo que nos faz bem nem sempre nos é agradável inicialmente, a exemplo de um remédio amargo.

Agora vem a pergunta do versículo 21: Que fruto?

2) A pessoa que não cuida da maneira de falar magoará os irmãos e colherá irmãos que terão, contra si mesmo, um coração fechado como as portas de um castelo trancado com ferrolhos.

Portanto, o texto de Provérbios, em seu contexto completo, não está falando que as palavras têm poder no mundo espiritual, como muitos afirmam. O texto está dizendo, simplesmente, que pessoas que falam sem pensar podem fazer com que seus irmãos tenham o coração fechado contra si.

Ainda, precisamos lembrar do que está escrito em Tiago 3, sobre a língua, e que se encaixa no mesmo contexto. Tiago afirma que a língua carrega veneno mortífero (Tg 3:8). Por quê? Porque ela incendeia uma floresta e põe a perder todo o corpo. Ela magoa e agride o próximo.

É nesse contexto que os escritores bíblicos falam do poder da língua. É o poder de alegrar um coração ou gerar uma grande confusão, magoando pessoas queridas e ferindo quem não precisa ser ferido.

Dependendo do que nós dizemos, podemos gerar uma confusão tão grande que isso pode levar uma pessoa contra a outra, podendo até gerar uma morte. Ou, podemos apaziguar uma situação, evitando uma tragédia. Por isso a vida e a morte estão no poder da língua.

Isso é a sabedoria colocada em prática.

Em nenhum dos textos a Bíblia nos diz que podemos mover o mundo espiritual com nossas palavras, ou que podemos gerar algo no mundo espiritual com nossas palavras. Quem move o mundo espiritual é o poder de Deus.

CONSELHO: Querido leitor, lembre quando for esclarecer alguém sobre esse assunto, de lhe pedir para que atente para a passagem bíblica por completo, e não apenas para a metade de um versículo. Ainda, peça que o mesmo faça associações com outras partes da Bíblia para não isolar um texto, pois a Bíblia explica a própria Bíblia.

CONCLUSÃO

Quais os benefícios que o Movimento da Fé tem trazido para o povo de Deus? John Ankerberg e John Weldon dizem o seguinte[1]:

Considere o Movimento da Fé. Ele trouxe unidade e maturidade - ou divisão e imaturidade - para o corpo de Cristo? Ele trouxe divisão e imaturidade. Por quê? Porque os pregadores da Fé não ensinam doutrina. Pois, se a ensinassem, nem sequer existiria um "Movimento da Fé (ANKERBERG; WELDON, 1993, p.24)

Isso pode ser facilmente constatado pelos “frutos” deixados pelo curso Rhema de Kenneth Hagin, que já dividiu igrejas, fragmentou irmãos e, como é de costume, se dedicam incansavelmente a assediar os membros de outras igrejas e denominações para que façam o seu curso, Rhema, quebrando princípios éticos, morais e, acima de tudo, doutrinários da Sagrada Escritura, que alicerçam seus ensinos na “teologia” do Movimento da Fé.

Por outro lado, concordamos plenamente com Hank Hanegraaff que afirma que apesar deste movimento ser sectário, é também composto por algumas pessoas sinceras, amáveis e que de fato nasceram de novo. Algumas dessas pessoas buscam viver uma vida piedosa em Cristo. Contudo, é difícil viver uma vida bíblica quando os seus alicerces doutrinários não são bíblicos.

Ainda que o Movimento da Fé seja inegavelmente sectário - e que grupos particulares dentro do movimento sejam nitidamente seitas - deve-se salientar que existem muitos crentes sinceros e nascidos de novo dentro desse movimento. Não posso exagerar ao enfatizar esse ponto crucial. Esses crentes, em sua maior parte, mostram-se totalmente alheios à teologia sectária do movimento.
Tenho encontrado pessoalmente diversas pessoas queridas que se enquadram nessa categoria. Não questiono sua fé nem sua devoção a Cristo. Eles integram aquele segmento do Movimento da Fé que, por alguma razão, não compreenderam nem internalizaram os ensinamentos heréticos apresentados pela liderança de seus respectivos grupos. Em muitas instâncias, são novos convertidos ao cristianismo que ainda não se firmaram bem na fé. Mas nem sempre é este o caso. (HANEGRAAFF, 1996, p.43)[2]

Por último, a problemática do Movimento da Fé é apresentada por Hank Hanegraaff[3] da seguinte forma:

O verdadeiro Cristo e a verdadeira fé bíblica estão sendo rapidamente substituídos por alternativas doentias, oferecidas por um grupo de mestres que pertencem ao denominado “Movimento da Fé”.
Este câncer vem sendo alimentado por uma constante dieta que poderia ser chamada de “cristianismo das refeições rápidas” - belas na aparência, mas fracas em substância. Os provedores dessa dieta cancerígena têm utilizado o poder das ondas de rádio e televisão, bem como uma pletora de livros e fitas criteriosa e agradavelmente embalados, a fim de atrair suas presas para o jantar. E os desavisados têm sido chamados a amar não o Mestre, mas aquele que está na mesa do Mestre. (HANEGRAAFF, 1996, p.14)[4]

Ainda, John Ankerberg e John Weldon dizem o seguinte:

O Movimento da "Fé" acredita que a mente e a língua humanas contêm uma habilidade ou poder sobrenatural. Quando alguém fala, expressando a sua fé em leis supostamente divinas, seus pensamentos e expressão verbal positivos produzem uma "força" supostamente divina que irá curar, proporcionar riqueza, trazer sucesso e, de outras maneiras, influenciar o ambiente. (ANKERBERG;WELDON, 1993, p.11)[5]

Finalizamos agradecendo ao Senhor Deus, porque mediante a ação do Espírito Santo tem se tornado cada vez mais frequente o número de pessoas que têm seus olhos e ouvidos abertos para a verdade da Palavra de Deus e buscado correção para as suas distorções.





[1]
ANKERBERG, John; WELDON, John. Os Fatos sobre o Movimento da Fé. Porto Alegre: Chamada da Meia-Noite, 1993.

[2]
HANEGRAAFF, Hank. Cristianismo em Crise. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

[3]
Idem.

[4]
Idem.

[5]
Idem.

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